25/04/2019
TRAIL RUNNING
Aventura, descoberta, adrenalina, paixão, superação, conquista, vivência...
São tantos os adjetivos que ainda faltam para classificar a semana vivida no Parque Nacional da Peneda-Gerês.
O
Trail Running foi apenas o mote para juntar centenas de pessoas
incríveis, com histórias de vida tão diversas como fascinantes.
Entre estas histórias, quero aqui destacar três exemplos:
A
Holandesa Birgit Gorel, surpreendeu-me com o seu sorriso a cada posto
de controle e linha de meta. Dois dias depois da aventura terminar,
enviou-nos um email, que me deixou sem palavras:
“Estamos
de volta à Holanda e já sentimos saudades vossas. Eu quero mesmo
agradecer a toda a equipa que fez esta fantástica aventura acontecer. Em
Outubro passado fui submetida a uma cirurgia (eu tinha um tumor na
minha perna). Foi removida parte do meu osso, recebi um enxerto ósseo e
foi colocada uma placa de carbono na minha perna. Eu não conseguia
calçar as minhas meias, tive de voltar a aprender a andar. Não tinha a
certeza de conseguir participar nesta aventura em Abril. Mas consegui
porque tive muita gente fantástica da vossa equipa a sorrir-me e a
apoiar-me nos pontos de controle e linhas de meta. Essas pessoas fizeram
com que fosse possível, portanto muito obrigada. Muito obrigada por nos
fazerem sentir que temos valor mesmo que não sejamos corredores
rápidos. É um óptimo presente poder participar e partilhar estes
momentos com todos! Mais uma vez muito obrigada e até ao próximo ano
(espero que acompanhada pelo Koos e pelo Fabio). Cumprimentos da Birgit
Gorel”
A Ana Sereno e o João Narciso,
simpático casal português, casaram no sábado dia 13 de Abril, dia da
primeira etapa do PGTA e podiam ter escolhido uma ilha paradisíaca para a
sua lua-de-mel, mas mesmo perdendo dois dias de prova, quiseram
partilhar esse momento tão especial com a sua “tribo”, num dos lugares
mais belos do Mundo, mesmo que esse lugar seja ao lado da sua casa.
A
atleta Francesa Hélene Brillant, sofreu uma queda a dois quilómetros da
meta na quarta etapa, em Lamas de Mouro. A fractura complicada no braço
era evidente, o seu sofrimento estava estampado no rosto, mas mesmo
assim insistiu em continuar até à meta.
Assistida
pelas equipas de socorro e transportada para o hospital, decidiu
acompanhar o marido e restantes amigos nos quatro dias de aventura
seguintes, adiando a intervenção cirúrgica para quando chegar a França.
A
alegria com que apoiava todos os colegas a cada passagem, dava-lhes a
energia extra quando esta começava a faltar… Um enorme exemplo de
coragem, alegria e companheirismo. Por vezes, vejo atletas no final das
suas provas, tristes, destruídos psicologicamente, só porque o resultado
classificativo não foi o esperado, em vez de desfrutarem de ali poderem
estar. No passado, também eu já fui um desses atletas, mas estas
pessoas têm-me ensinado tanto que isso nunca mais irá acontecer.
O
PGTA e o TransPeneda-Gerês, assim como muitas outras provas
desportivas, são feitas de superações incríveis, enriquecimento pessoal,
e isso é o mais importante neste tipo de aventuras.
Numa
prova como o Peneda-Gerês Trail Adventure, participantes e staff criam
laços de amizade que vão além de quatro ou oito dias de evento, relações
intensas e duradouras para a vida, porque afinal somos todos
apaixonados pelo desporto de Natureza.
Superação
é palavra sempre presente também para este grupo de familiares e amigos
que outros chamam de STAFF, só quem vive por dentro este tipo de
eventos sabe as dificuldades, esforço e dedicação que todos, mesmos
todos, os envolvidos precisamos de ter.
Mesmo
quando dormimos duas ou três horas por dias consecutivamente, e
tentamos ser simpáticos, mas o nosso rosto evidencia tudo menos isso,
mesmo sendo criticados por quem não entenda pequenas ou grandes falhas,
ou até talvez caprichos pessoais e tentamos ser educados.
Mas a nossa resiliência mostra que depois destes grandes eventos, temos a certeza que tudo valeu a pena.
No
primeiro dia de evento, pelas 23h, eu e o Luís Barata tivemos de fazer o
último transfere dos participantes da versão TPG 80k para Montalegre,
atletas cansados e ansiosos por chegarem aos seus transportes que
estavam na linha de partida.
Durante
a viagem de curva contra curva, chuva e nevoeiro, parecia interminável a
chegada a Montalegre. O primeiro dia do evento estava concluído, mas a
semana antecedente tinha sido ao mesmo ritmo, alucinante, e as 24h
diárias eram curtas para tamanha logística.
Hora
e meia depois lá chegamos ao destino, desesperados procuramos um café
aberto para que uma boa dose de cafeína nos levasse de novo ao Gerês,
mas a noite fria e chuvosa pôs Montalegre inteira a dormir.
Decidimos regressar ao Gerês, 1h da manhã e recebo uma mensagem:
- Já jantaram?
- Acabamos de comer lasanha, é para deixar para vocês?
E
nós desesperados só queríamos um café, até que o bom censo diz-nos que
mais vale encostar os carros e descansar. Já não tinha a certeza se era
só o nevoeiro intenso que não me deixava ver a estrada ou se os meus
olhos já não aguentavam a fadiga. Cada um no seu carro, em segundos
dormíamos na beira da estrada, pouco depois pelas 2h da manhã liga-me a
minha esposa:
- Vais demorar? - Estou fora do hotel e tu tens a chave do quarto….
Estava ainda a cerca de 50min do Gerês, mas este acordar repentino, foi a adrenalina que a dose de cafeína não nos deu.
Chamei
o Luís e lá fomos nós em segurança, chegados ao Gerês só nos restava a
carrinha dos abastecimentos, para um jantar diferente à base de bananas e
bolachas. Três horas depois começava tudo de novo….
Ao
longo da minha carreira enquanto atleta e organizador, tenho
dificuldade em saber quais as aventuras mais importantes e as que mais
me preencheram. Ambos os lados de atuação são tão intensos, que o mais
importante é a partilha destas experiências com quem nos rodeia.
O
Peneda-Gerês Trail Adventure ainda não acabou, dura muitas semanas,
meses e anos. Há ainda muita logística, vídeos, fotos, comunicados para
fazer. Os últimos seis anos têm sido sempre assim, e a cada ano esta
família cresce cada vez mais, tornando este evento tão especial como as
pessoas que nele participam.
A
minha gratidão, do fundo do coração a todos os que ajudaram a por de pé
estes seis anos de eventos, sem mencionar nomes porque são tantos que
corria o risco de me esquecer de alguém.